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A Arte de Costurar e a Lição da Vida

há 4 dias

2 min de leitura

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Na pequena cidade, a antiga Santa Comba, Cela, em Angola, ergueu-se um refúgio de cores, tecidos e sonhos no qual minha mãe reinava como a grande mestra da arte de costurar. Ali, na loja que era o coração da nossa família, minha mãe, uma talentosa costureira, passava horas criando roupas que traziam alegria aos que as usavam. Cada pedaço de tecido, cuidadosamente escolhido pelos clientes, era transformado em peças de vestuário que carregavam não apenas estilo, mas também o carinho de suas mãos habilidosas.


Eu era apenas um menino, tinha oito anos quando comecei a ajudar na loja, atendendo aos clientes com a mesma dedicação que via em minha mãe. A máquina de costura “Oliva”, feita em Portugal, ocupava um lugar de honra no balcão, logo abaixo das prateleiras repletas de rolos de tecidos coloridos. Foi com essa máquina, de construção robusta e detalhes elegantes, que aprendi a costurar, seguindo os passos de minha mãe. Ela me ensinou não apenas a manusear a agulha e linha, mas também a entender o valor do trabalho bem feito e o impacto que nossas ações têm na vida dos outros.


Cada vestido, cada calça e cada camisa que minha mãe criava eram mais do que simples roupas. Eram manifestações de seu talento, de seu amor pela arte de costurar, e de seu compromisso em oferecer o melhor aos seus clientes. Ela fazia questão de garantir que cada peça fosse única, ajustada aos gostos e medidas de quem a encomendava, e isso me ensinou sobre a importância de personalizar o trabalho, de fazê-lo com esmero e dedicação.


Nos fundos da loja, tínhamos um alfaiate que cuidava das roupas masculinas, consertando e criando peças sob medida. Juntos, formávamos uma equipe que atendia a todos que passavam por nossa loja, criando um ambiente de acolhimento e satisfação. A convivência com esses mestres da costura moldou meu caráter e reforçou a importância do compromisso e da ética no trabalho.


Com o passar dos anos, até o dia em que deixamos Angola, em 6 de agosto de 1975, aquela loja e a figura incansável de minha mãe permaneceram como um farol de dedicação e talento. Tudo o que sou, tudo o que aprendi sobre trabalho árduo, qualidade e paixão, devo a ela. A loja pode ter ficado para trás, mas as lições de vida que recebi naquele balcão e junto àquela máquina de costura Oliva, permanecerão para sempre comigo.


O Talento Herdeiro

Naquela loja humilde, em Santa Comba,

Minha mãe com mãos de fada tecia,

Cada ponto, um laço de harmonia,

Criando sonhos que o tempo não tomba.


Oliva a máquina que ao toque assoma,

Dos panos que o vento em cores vestia,

E eu, menino, com sede de magia,

Aprendia o dom que o amor consuma.


Seu olhar atento, paciente guia,

Mostrava que a vida se costura

Com linhas de fé, trabalho e alegria.


No rosto o orgulho, na alma a ternura,

Deixou-me a herança, sua arte, a poesia,

Que em cada fio, eterniza a candura.




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