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A Gloriosa Vitória de Montes Claros: A Batalha que Selou a Independência de Portugal

6 de out de 2024

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Introdução: O Contexto Histórico da Guerra da Restauração


A Batalha de Montes Claros, travada em 17 de junho de 1665, foi um dos episódios mais marcantes da história de Portugal, determinando o desfecho da Guerra da Restauração. Este conflito, iniciado em 1640, após a revolução que depôs a dinastia filipina, foi travado entre o Reino de Portugal e o Reino de Espanha, à época sob o domínio dos Habsburgos. O fim da batalha não apenas garantiu a soberania portuguesa, mas também foi uma das últimas grandes batalhas que consolidaram a independência de Portugal, iniciando um novo período de paz que perduraria por mais de dois séculos.


A Guerra da Restauração teve início com a aclamação de Dom João IV como rei, após a revolta contra o domínio espanhol, que durava desde 1580. Esse período de 60 anos, conhecido como o Domínio Filipino, marcou uma época em que Portugal esteve unificado sob a coroa espanhola. Após a morte de D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir (1578) e a crise de sucessão que se seguiu, o trono português foi ocupado por Filipe II de Espanha, e Portugal perdeu sua autonomia.


Em 1640, com a Revolução da Restauração, a nobreza portuguesa, apoiada por setores da burguesia e o povo, colocou fim a essa dominação estrangeira, e Dom João IV foi coroado como o novo monarca da Casa de Bragança, uma dinastia que governaria Portugal até o início do século XX. A partir de então, as relações entre Portugal e Espanha foram definidas por uma guerra de resistência, com ambos os lados lutando ferozmente pela supremacia.


A Ascensão de Portugal Sob a Casa de Bragança


A aclamação de D. João IV trouxe esperança e determinação ao povo português, que se organizou para defender seu reino contra as investidas castelhanas. Apesar de enfrentar um inimigo numericamente superior e com mais recursos, o exército português compensou essas desvantagens com bravura, táticas astutas e o apoio inabalável da população.


Durante os anos de guerra, Portugal travou uma série de batalhas decisivas, das quais se destacam as vitórias em Montijo (1644), Elvas (1659), Ameixial (1663), e finalmente a gloriosa vitória em Montes Claros (1665). O exército espanhol, então comandado pelo Marquês de Caracena, sofreu sucessivas derrotas, o que enfraqueceu a sua posição na Península Ibérica e, por fim, forçou o reconhecimento da independência portuguesa no Tratado de Lisboa, assinado em 1668.


O Campo de Batalha: Montes Claros


A Batalha de Montes Claros, travada nas proximidades de Vila Viçosa, foi uma das últimas e mais importantes batalhas da Guerra da Restauração. Em junho de 1665, o exército castelhano, liderado por Dom Luís de Benavides Carrillo, Marquês de Caracena, avançou sobre território português com o objetivo de tomar posições estratégicas no Alentejo. Este movimento fazia parte de uma tentativa desesperada de reverter as sucessivas derrotas que a Espanha vinha sofrendo ao longo da guerra.


As forças portuguesas, sob o comando do Marquês de Marialva, D. António Luís de Menezes, aguardavam o inimigo em terreno elevado nas proximidades de Montes Claros. O exército português contava com cerca de 20.000 homens, enquanto os espanhóis possuíam uma força de 22.600 soldados e 4.000 cavalos. A superioridade numérica dos espanhóis, no entanto, não foi suficiente para superar a excelente posição defensiva escolhida pelos portugueses e a estratégia brilhante de Marialva.


O Desfecho da Batalha: Bravura e Estratégia Portuguesa


A batalha começou nas primeiras horas da manhã de 17 de junho e se estendeu até o final da tarde. D. António Luís de Menezes conseguiu utilizar o terreno a seu favor, posicionando sua infantaria e artilharia em locais elevados, o que lhe deu uma vantagem estratégica sobre o exército espanhol, que, lutando em campo aberto, não conseguiu romper as linhas portuguesas.


As forças castelhanas, após várias tentativas frustradas de penetrar as defesas portuguesas, começaram a sofrer pesadas baixas. Por volta das seis da tarde, o Marquês de Caracena ordenou a retirada, reconhecendo que a batalha estava perdida. O saldo final foi devastador para os espanhóis: cerca de 10.000 mortos e mais de 6.000 prisioneiros, em comparação com aproximadamente 700 baixas do lado português. Além disso, os espanhóis perderam praticamente toda a sua artilharia e suprimentos.


A Batalha que Mudou a História de Portugal


A vitória em Montes Claros foi um marco decisivo na Guerra da Restauração. Com a derrota dos espanhóis, Portugal consolidou sua posição como um reino independente e pôde finalmente respirar aliviado após quase três décadas de guerra.

Após a batalha, a Espanha, já enfraquecida por guerras em várias frentes, foi forçada a buscar um acordo de paz. O Tratado de Lisboa, assinado em 13 de fevereiro de 1668, pôs fim oficialmente ao conflito e reconheceu a soberania de Portugal sob a Casa de Bragança.


A vitória em Montes Claros também teve repercussões significativas para a Europa. A restauração da independência portuguesa enfraqueceu o domínio dos Habsburgos na Península Ibérica, equilibrando as forças entre as nações europeias e inaugurando um longo período de paz para Portugal. A monarquia portuguesa, revitalizada pela liderança da Casa de Bragança, continuou a reinar até a queda da monarquia em 1910.


Herança e Memória: A Glória Imortal de Montes Claros


O heroísmo dos soldados portugueses em Montes Claros tornou-se parte indelével da memória coletiva de Portugal. A batalha é lembrada como um exemplo de coragem, liderança militar e patriotismo. O Marquês de Marialva foi imortalizado como um dos grandes heróis da história portuguesa, e a bravura das tropas que lutaram ao seu lado é celebrada até hoje.


A importância histórica de Montes Claros também foi registrada em cartas, relatos e poesias da época. Um dos mais conhecidos registros é a carta de um ministro do Rei Filipe IV, que lamentou as derrotas espanholas e reconheceu a bravura dos portugueses, dizendo:


"Senhor: Portugal nos derrotou em Montijo, destruiu-nos em Elvas… Portugal em Évora destruiu a Flor da Espanha, o melhor de Flandres, o lúcido de Milão e o escolhido de Nápoles. O Príncipe D. João José da Áustria fugiu deixando oito mil mortos, seis mil prisioneiros..."


Este testemunho é uma prova incontestável da capacidade militar de Portugal e do espírito de resistência que permeou o reino durante os anos de guerra.


Tributo Poético: Uma Homenagem aos Heróis de Montes Claros


Em homenagem à bravura e ao sacrifício dos soldados que lutaram em Montes Claros, escrevo o seguinte soneto, inspirado na tradição camoniana:

Soneto: Heróis de Montes Claros


E assim, com coragem e fé,

Erguemos nossa pátria amada,

Em Montes Claros, com bravura e fé,

Liberdade foi conquistada.


De Camões, a pena vou tomar,

Para em versos cantar nosso brio,

Portugal, na glória a brilhar,

Soberano e forte, com alívio.


No campo onde a batalha foi travada,

Sangue e suor pela liberdade,

Em Montes Claros, terra consagrada,

Reerguemos nossa identidade.


Por D. João IV, nosso Rei libertador,

Unimos forças, vencemos a opressão,

E de novo, com honra e valor,

Erguemos alto nossa nação.



Conclusão: O Legado de Montes Claros


A Batalha de Montes Claros não foi apenas uma vitória militar, mas uma reafirmação do espírito indomável do povo português. A bravura, o patriotismo e o sacrifício demonstrados naquela tarde de junho de 1665 moldaram o futuro de Portugal, assegurando sua independência e consolidando seu lugar na história europeia.


Com esta vitória, Portugal entrou em um período de paz que durou por mais de dois séculos, consolidando a Casa de Bragança no trono e garantindo que a liberdade conquistada pela espada fosse preservada. Montes Claros é, portanto, mais do que um episódio de guerra — é um símbolo perene da identidade e da resistência do povo português, que sempre lutou pela sua liberdade e pela sua pátria.


Este blog é um tributo àqueles que lutaram e morreram por Portugal e uma lembrança de que a história e a glória de uma nação são escritas pelos atos corajosos de seus filhos e filhas.



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