Explorando a Rica Cultura de Angola e Portugal

A Linguagem dos Meus Antepassados: A Evolução da Língua Portuguesa
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Como alguém que viveu e testemunhou a riqueza cultural de diferentes continentes, a jornada da língua portuguesa é uma história que me toca profundamente. Esta língua românica, que carrego comigo desde as terras de Angola até os corredores tecnológicos da Micron nos Estados Unidos, possui uma história rica e complexa, refletindo a interação de diversos povos e culturas. A evolução do português é um exemplo fascinante de como as culturas se fundem, adaptam e transformam ao longo dos séculos.
Raízes Romanas: O Latim Vulgar
Minha avó costumava me contar histórias sobre as origens da nossa língua, que remontam ao latim vulgar, falado pelos comuns do vasto Império Romano. A Península Ibérica, onde os romanos chegaram em 218 a.C., tornou-se um caldeirão onde o latim vulgar se misturava com as línguas locais, evoluindo em dialetos regionais que, eventualmente, deram origem ao português. O latim vulgar, diferente do latim clássico, era a variante falada pelas massas, facilitando sua adaptação e evolução à medida que os romanos conquistavam novas terras e se misturavam às populações locais.
Além do latim, influências celtas e ibéricas pré-romanas também deixaram resquícios importantes, principalmente em nomes de lugares e em termos ligados à vida rural e ao cotidiano das comunidades. Isso mostra como a língua é moldada pela convivência entre culturas, um reflexo da diversidade que caracterizava a região.
Influências Pré-Romanas e Visigóticas
Antes da presença romana, a Península era habitada por povos como os lusitanos, celtas e iberos, cujas línguas deixaram marcas no português, especialmente em termos topônimos e de caráter rural. Alguns exemplos incluem nomes de rios e montanhas, como "Douro" e "Minho", que até hoje preservam as influências desses povos. A chegada dos visigodos no século V, após a queda do Império Romano do Ocidente, trouxe palavras de origem germânica que enriqueceram o vocabulário, principalmente nos campos da administração, militarismo e relações familiares. Termos como "guerra", "roubo" e "garra" têm suas raízes na influência visigótica. Minha família sempre mencionava essas mudanças como exemplos da força da adaptação e do impacto das diferentes culturas na evolução do idioma.
A Influência Árabe
No século VIII, a Península Ibérica foi invadida pelos mouros, e a presença árabe se estendeu por quase oitocentos anos em partes de Portugal e Espanha. Esta influência deixou marcas profundas na língua portuguesa, especialmente no vocabulário relacionado à ciência, à agricultura e ao comércio. Termos como "azeite" (derivado de "az-zait"), "alfazema", "almofada" e "algodão" são exemplos de como a cultura árabe se integrou à nossa língua, simbolizando uma época de grande intercâmbio cultural e avanços técnicos. Além disso, os mouros trouxeram avanços no campo da matemática, astronomia e medicina, que impactaram profundamente o desenvolvimento intelectual da Península.
As influências árabes também podem ser vistas na arquitetura, na gastronomia e na música da região, evidenciando como as culturas podem enriquecer umas às outras quando coexistem em harmonia.
Formação do Galego-Português
Durante a Reconquista, o galego-português começou a tomar forma nas regiões do norte de Portugal e da Galícia. A independência do Reino de Portugal, em 1139, marcou um ponto importante para a evolução da língua, que passou a distinguir-se cada vez mais do galego. Esse processo de diferenciação foi gradual e esteve intimamente ligado ao desenvolvimento das identidades regionais. Documentos da época, como "A Notícia de Fiadores", mostram o avanço do galego-português como ferramenta oficial e literária.
Essa distinção linguística, assim como as diferenças culturais que surgiram entre as duas regiões, ecoa no meu trabalho como engenheiro, onde a precisão e a evolução constante são fundamentais para criar sistemas robustos e eficientes. Como o galego e o português, cada parte do sistema deve ser desenvolvida e aperfeiçoada em conjunto, mantendo sua identidade, mas funcionando como um todo coeso.
Expansão e Padronização
Com o crescimento do Reino de Portugal, especialmente a partir do reinado de D. Dinis (1261-1325), a língua portuguesa começou a ser padronizada. Em 1290, D. Dinis fundou a primeira universidade portuguesa e decretou que o português deveria ser a língua oficial do reino, em vez do latim. Este processo de padronização foi essencial para consolidar o idioma e garantir a sua unidade. Assim como na criação de padrões na engenharia, esta unificação foi crucial para garantir a comunicação e o progresso.
Durante este período, começaram a ser escritos documentos oficiais em português, como forais e leis, e a literatura também floresceu, com destaque para as cantigas de amor e de amigo. Este foi um marco importante para a identidade do povo português, que pela primeira vez via sua língua ser utilizada de forma oficial e artística.
A Era dos Descobrimentos
Nos séculos XV e XVI, a língua portuguesa se expandiu pelo mundo, acompanhando os navegadores durante a Era dos Descobrimentos. O português tornou-se uma língua de contato e de troca cultural, sendo falado na África, Ásia e América. Durante este período, a língua absorveu elementos de diversos idiomas locais, como o quimbundo em Angola, o tupi no Brasil e o malaio na Índia e Indonésia. Essas contribuições enriqueceram o português, tornando-o ainda mais diversificado.
Esta época de expansão global é um reflexo da minha própria jornada pessoal e profissional, levando meu conhecimento e cultura a novos horizontes, onde, assim como os descobridores, tive que aprender a me adaptar e a integrar novas ideias e perspetivas. O português se tornou um meio de expressão universal, usado tanto em transações comerciais quanto na produção literária e científica.
Influências Modernas e Variedades do Português
Com o passar dos séculos, o português continuou a evoluir, especialmente através do contato com outras culturas. No Brasil, o contato com os povos indígenas e africanos contribuiu significativamente para a formação de um português vibrante e diverso. Palavras como "pipoca" (do tupi "pira-poka", que significa "milho que estoura") e "moleque" (de origem africana) são exemplos dessa rica interação cultural.
Em Angola, Moçambique e Macau, a língua se desenvolveu de maneira única, refletindo as experiências e os contextos locais. Em Angola, por exemplo, o português convive com línguas nacionais como o umbundo e o quicongo, resultando em uma variedade línguística rica que inclui expressões e modos de falar que só existem ali. Essa diversidade linguística é um espelho da riqueza cultural e profissional que encontrei em minha carreira, onde a adaptação e a inovação são constantes, e cada contexto traz uma nova oportunidade de aprendizado e crescimento.
Hoje, o português é falado por mais de 260 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a língua oficial de países em quatro continentes. As diferentes variantes do português – como o de Portugal, o do Brasil, e o de Angola – continuam a evoluir, mantendo-se vivas e dinâmicas. A existência do Acordo Ortográfico de 1990, por exemplo, é uma tentativa de aproximar as diferentes variantes, mas sem eliminar as particularidades que fazem de cada uma delas um reflexo da cultura local.
Conclusão
A língua portuguesa, tal como a minha história pessoal, é um testemunho da interação de culturas e da evolução contínua. De suas raízes no latim vulgar às influências mouriscas, germânicas, indígenas e africanas, o português é uma língua vibrante e diversificada. Esta herança rica reflete-se na forma como abraço cada novo desafio e oportunidade, com a mesma paixão e respeito pela minha língua e cultura.
