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Amar-me é conhecer a minha dor

mar 28

3 min de leitura

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Estes sonetos nascem do âmago de uma alma que ama com profundidade e cicatriz. Não celebram o amor idealizado, mas sim aquele que resiste à dor, que vê beleza mesmo na sombra, e que permanece quando o riso cede espaço ao silêncio. São versos que desnudam a alma, revelando que amar-me é, antes de tudo, um ato de coragem — de quem escolhe ver por inteiro e, ainda assim, ficar.


Capítulo I: O Silêncio do Amor

Em noites profundas, onde o luar parecia apenas um eco tímido no céu negro, havia quem ousasse mergulhar nas águas revoltas do meu ser.

Esses olhos corajosos não viam apenas o brilho superficial, mas as sombras profundas, onde o sorriso escondia prantos silenciosos.

Foi nessa noite que eu compreendi:


Soneto I

Amar-me é conhecer a minha dor,

É ver além do riso o desencanto,

Ler nos meus olhos sombras de um pranto,

Sentir no meu silêncio o dissabor.


É cruz que pesa mais do que o amor,

É luz que fere ao despontar do manto,

É dar-se ao abismo, fundo, frio e tanto,

Sem prometer ao fim qualquer sabor.


Quem ama assim, conhece a tempestade,

Aceita o que é sombrio e verdadeiro,

E firma-se no chão da lealdade.


Pois só quem me vê inteiro,

Com dor, falha e secreta ansiedade,

É digna de chamar-se minha por inteiro.


Capítulo II: A Memória da Dor

Amar-me nunca foi simples.

Minhas pegadas estavam gravadas por caminhos difíceis, esquecidos pelo tempo, mas lembrados pela dor.

Quem decidisse ficar precisaria entender cada cicatriz oculta, cada medo escondido atrás de meus olhos.

E quando alguém finalmente escolheu permanecer, eu disse, quase num sussurro:


Soneto II

Não busques só meu sorriso ou minha glória,

Que o brilho esconde em si muitos espinhos;

Meus passos foram feitos dos caminhos

Que o tempo esquece e a mágoa faz memória.


Se queres me amar, conhece a história

Das noites onde andei por meus destinos,

Dos medos meus, dos sonhos pequeninos,

Que a vida enterrou sem trégua ou vitória.


Amar-me é ver sangrar o que não falo,

É perceber, no gesto, a resistência,

E não fugir ao peso do meu fardo.


É ser farol no escuro em que resvalo,

É ter, do amor, a rara paciência

De amar também meu lado mais pardo.


Capítulo III: A Promessa Silenciosa

Então veio o dia em que alguém decidiu enfrentar meu incêndio interno.

Com coragem, tocou as feridas abertas pelo silêncio, segurou-me com firmeza quando tudo ameaçava desmoronar.

Nesse abraço silencioso, nessa promessa de permanência, encontrei finalmente a certeza:


Soneto III

Amar-me é desbravar a carne em brasa,

Tocar o sal nas chagas do silêncio,

Sentir que, por detrás do meu dispêndio,

Há dor que finge paz mas nunca passa.


É dar-se inteira à alma que se arrasa,

Rasgar o véu do orgulho e da defesa,

Ficar, mesmo que a dor seja surpresa,

E amar na tempestade mais escassa.


É beijo que consola a ferida antiga,

É mão que sabe a hora de calar-se,

É corpo que na sombra também abriga.


É ser meu porto quando eu desfaço a parte,

E mesmo ao ver-me ruir sem ter saída,

Dizer: “Eu fico, pois sei como amar-te.”


Epílogo

Estas palavras são o testemunho da resistência do amor verdadeiro.

Amar-me é conhecer a minha dor — e ainda mesmo assim, escolher permanecer.


No silêncio profundo do abraço, revela-se o amor que permanece ao tocar a dor mais íntima, reafirmando que amar é, sobretudo, acolher a vulnerabilidade do outro.
No silêncio profundo do abraço, revela-se o amor que permanece ao tocar a dor mais íntima, reafirmando que amar é, sobretudo, acolher a vulnerabilidade do outro.

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