Explorando a Rica Cultura de Angola e Portugal

Angola em Poesia: Versos de uma Nação em Luta e Esperança
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Por João Elmiro da Rocha Chaves
A história de Angola é uma narrativa vibrante de resistência e esperança, tecida pelas mãos de um povo que, durante quarenta e um anos, enfrentou desafios indescritíveis na busca por um destino soberano. Em 1975, às portas da independência, o sentimento nas ruas, nos lares e nos corações angolanos era de profundo desejo por liberdade, embora permeado de incerteza.
No entanto, a independência trouxe consigo a continuação da Guerra Fria, cujas forças globais se entrelaçaram no solo angolano, intensificando divisões e prolongando o sofrimento. Os ideais e esperanças da nossa nação foram moldados e, muitas vezes, contidos por interesses estrangeiros que viam Angola como um campo estratégico de disputa. Esta era deixou marcas profundas, influenciando nossa trajetória como povo e reforçando nosso espírito de luta e resiliência.
Hoje, apresento três poemas escritos na diáspora, após o fim da Guerra Fria em 1992, uma era que marcou transformações profundas: "Angola," "A Bomba," e "Minha Terra." Estes versos capturam o espírito de uma Angola vivida e sentida em suas facetas mais intensas e delicadas, uma terra que, apesar de tudo, mantém viva a chama de sua própria identidade.
Angola: Um Grito de União e Esperança
No poema "Angola," os versos revelam um país vibrante, amado e cobiçado, mas irredutível diante dos interesses imperialistas. Como um hino de união, o poema ecoa o grito coletivo de um povo que busca a liberdade. A Angola descrita aqui é uma “terra de graça sem igual,” que, com sua história de sangue e suor, permanece firme no pedestal de dignidade. Eu tento capturar a essência da nação e o sonho de emancipação, imortalizando a luta e o anseio pela independência total.
ANGOLA
Oh, Angola, terra de graça sem igual,
Cobiçada pelos imperialistas, mas firme em seu pedestal.
Teu solo fértil, um tesouro a deslumbrar,
Por sangue e suor, tua história a relatar.
Por quarenta e um anos, nosso povo se ergueu,
No calor da batalha, onde seu destino teceu.
Seu sacrifício, um testemunho de grandeza,
Para libertar nossa pátria, em nobreza.
Oh, terra de amor, ansiando pela liberdade,
Suportando as provações, buscando a própria verdade.
Que a humanidade testemunhe, a bondade de Angola,
No abraço da liberdade, onde nossa alma se desdobra.
Angola, Angola, nosso grito a vibrar,
Pela liberdade, justiça e razão.
Oh, Angola, corações a voar,
Na promessa da nossa independência em ação.
Aqui, o poema torna-se um manifesto de identidade, um testemunho da força e do orgulho de ser angolano. É um canto de amor e de promessa, onde a pátria amada permanece como um guia para as gerações que buscam um futuro livre e soberano.
A Bomba: O Medo e a Realidade da Guerra
"A Bomba" revela o lado sombrio e angustiante do conflito, onde o terror de uma explosão iminente e a incerteza da sobrevivência ocupavam os pensamentos de todos. Os versos falam do medo constante de uma bomba “cruel,” de destino implacável, que ameaça vidas e sonhos com uma brutalidade inescapável.
Aqui, o poema mergulha na realidade crua da guerra, onde as pessoas se veem forçadas a fugir, deixando para trás tudo que lhes trazia felicidade.
A BOMBA
A bomba cruel, seu destino já traçado,
Minha vida em risco, pelo medo assolado.
Que caminho seguir, como sobreviver,
À sombra da morte, sem poder reviver.
A bomba cruel, seu destino implacável,
Meu apelo por piedade, em caos indomável.
Oh, minha pátria amada, para onde fugir,
Deixando para trás tudo que me fez sorrir.
E meus camaradas, fugindo ao meu lado,
Buscando refúgio do turbilhão alado.
E aqueles que ficaram, seu destino selado,
No abraço sombrio da guerra, seu fado.
Neste poema, cada verso é uma flecha apontada ao coração da guerra, expondo o terror e a desolação daqueles que viveram sob o espectro da morte. A angústia de fugir e o desespero pelos camaradas que ficaram para trás criam uma imagem poderosa de uma Angola ferida mas resistente.
Minha Terra: Um Lamento e uma Prece
Por fim, em "Minha Terra," encontramos um lamento profundo pela Angola que sofre e resiste sob a ganância que a sufoca. O poema expressa a dor de ver o solo pátrio manchado pelo sangue, mas também o desejo de paz, uma súplica para que a fúria da guerra ceda e permita que a pureza da terra seja restaurada.
Em meio ao caos, há uma prece sincera para que o monstro da guerra apague seu rastro destruidor, permitindo que a Angola querida possa um dia viver sem o peso da opressão.
MINHA TERRA
Oh, terra querida, tua beleza é sem par,
Mas manchada pela ganância, a nos sufocar.
Em teu solo fértil, o sangue se derrama,
Um lamento silente, uma dor que inflama.
Com olhos marejados, contemplamos tua sina,
Enquanto a paz foge, e a esperança declina.
Forçados a deixar teu abraço, por mão estrangeira,
Ansiando por consolo na noite mais derradeira.
Oh, poderoso monstro, de dentes afiados a brilhar,
Devorando a inocência, sem deixar rastro a encontrar.
Aplaca tua fúria, deixa a paz reinar,
Restaura a pureza, que a guerra veio ceifar.
"Minha Terra" é uma prece por redenção, um clamor que ecoa o desejo de ver a Angola novamente em paz. Ao mesmo tempo, é uma denúncia da ganância estrangeira e da destruição que ela impõe, uma súplica por um futuro onde Angola possa florescer em paz e liberdade.
Reflexão e Relevância Hoje
Estes poemas são mais do que simples versos; são testemunhos vivos de uma época em que Angola se preparava para se reinventar como nação independente. Para o leitor português, eles oferecem um vislumbre da angústia, do amor e da esperança que pulsavam nos corações angolanos.
Através desta linguagem poética que é simultaneamente bela e dolorosa, somos convidados a sentir a experiência angolana, a reconhecer sua luta e a respeitar seu caminho.
Estes versos não apenas capturam a essência de um momento histórico, mas perpetuam um amor eterno por Angola. Que estas palavras possam ressoar, ecoando no coração de todos que as leiam, e nos lembrem de que, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, a esperança pela liberdade e pela justiça permanece inquebrantável.
