Explorando a Rica Cultura de Angola e Portugal

Epígrafe
“A verdade pode dormir num poço, mas nunca se afoga no silêncio.”
— Mákalé
A Busca do Retorno da Verdade
(Soneto camoniano com voz de Mákalé)
Nas sombras que a mentira fez crescer,
Onde a luz se escondeu por entre o engano,
Sofre o bom coração, calado, humano,
Ansiando a alvorada por nascer.
Do véu da treva o sol se escondeu,
Vencido pelo engano tão dourado;
Mas rompe a luz no céu Iluminado,
Se a voz do povo em clamor se ergueu.
Oh, face nua! Cai-te o vão disfarce!
A justiça não pesa, se é tendida
Para a balança ser de cor e cena.
Antes se curve à luz que não esparce
Ódio ou temor, mas honra repartida,
Que em cada peito a verdade envena.
Comentário Reflexivo
Num protesto marcado pela urgência moral de um povo cansado de meias verdades, deparei-me com um cartaz onde se lia, em inglês imperfeito, “Make Lying Wrong Again.” Naquele instante, senti o impulso de responder com aquilo que sempre me serviu de arma e escudo: o verso.
Assim nasceu este soneto, à maneira dos Lusíadas, ecoando não só a tradição de Camões, mas também a minha própria herança — a voz do meu avô João Salvador, vindo da Terceira, o espírito firme do meu pai João Chaves da Bezelga, e a disciplina formal dos mestres que me moldaram em português clássico.
Esta composição ergue-se como um apelo: que a justiça se liberte da neutralidade inerte e incline-se, sim, para a verdade. Pois uma balança que ignora o peso do real não pesa — mascara.
Ilustração
A imagem que acompanha esta secção retrata a Verdade a emergir de um poço antigo, os pés cercados por máscaras partidas, sob um céu que se abre ao alvorecer. Ao lado, repousam as balanças da justiça, não cegas — mas despertas.
