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Minha Pátria, Meu Orgulho: Reflexões de um Luso-Angolano no Mundo Global

fev 21

14 min de leitura

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1. Introdução: A Força da Língua Portuguesa

“Minha pátria é a língua portuguesa.” A frase de Fernando Pessoa, gravada em belos azulejos, expressa de maneira singular o sentimento de pertencimento que trago em meu coração. Ela me remete às minhas origens em Angola, às vivências em Portugal e às experiências nos Estados Unidos. Sinto que a língua portuguesa é um elo que me une a essas geografias distintas, uma força que carrego comigo e que me inspira em cada etapa da minha trajetória.


Neste artigo, compartilho como a língua portuguesa se tornou minha verdadeira pátria, especialmente depois de ter deixado Angola às vésperas da Independência, em 1975, e de ter me estabelecido em um contexto profissional e acadêmico nos Estados Unidos. Pretendo mostrar que a língua não é apenas um meio de comunicação, mas também um abrigo cultural, emocional e intelectual.


2. Minhas Raízes em Angola

2.1. Uma Infância em Terras Africanas

Nasci em Angola, um país que se revela em cada recanto com paisagens deslumbrantes e uma diversidade cultural verdadeiramente única. A minha infância transcorreu nas coloridas ruas de Santa Comba, Cela, (atualmente Waku Kungo) onde cada dia era um novo capítulo de descobertas e aprendizagens. Recordo-me com carinho do sol quente que acariciava a pele, das tardes longas em que brincava nas praças e dos sorrisos partilhados com vizinhos e amigos de várias origens.


Crescer num ambiente tão plural fez com que o convívio com pessoas de diferentes etnias e sotaques se tornasse algo natural. O idioma português, que permeava o nosso dia a dia, não era meramente o vestígio de um passado colonial, mas sim a base de uma identidade coletiva que nos unia. Na cadência das conversas e nos contos passados de geração em geração, o português revelava-se como uma ponte que ligava histórias, tradições e sentimentos diversos.


Era comum ouvir, à porta de casa, histórias de avós que partilhavam memórias de tempos remotos, enquanto os mais jovens debatiam sobre os contos folclóricos que ecoavam pela comunidade. Cada palavra pronunciada, cada riso ou pranto, contribuía para a criação de uma tapeçaria rica em significados, onde a língua portuguesa se transformava num elemento fundamental de coesão social. Assim, mesmo nas tardes quentes e cheias de vida, o idioma mostrava-se como um fio invisível que entrelaçava as nossas experiências e valores.


2.2. Partida às Vésperas da Independência

No limiar de 1975, quando Angola se encontrava prestes a conquistar a sua tão almejada Independência, a nossa família enfrentou um daqueles momentos decisivos e carregados de emoção. A instabilidade política e os ventos impetuosos da Guerra Fria fizeram com que tivéssemos de tomar a difícil decisão de partir, deixando para trás a terra que me viu dar os primeiros passos.


Apesar da dor da despedida, levei comigo muito mais do que a memória física de um lugar. Carreguei as vivências de uma infância marcada pelo calor humano e pela pluralidade cultural, onde o português não era apenas uma língua, mas um legado de união e identidade. Em cada adeus, encontrava-me a reforçar a certeza de que, mesmo distante, aquele idioma seria a minha fortaleza e o elo que me ligaria, para sempre, às raízes que me formaram.


A partida foi repleta de incertezas, mas também de esperança. Naquele contexto tumultuoso, o idioma português assumiu um papel duplo: tornou-se, de um lado, o repositório das minhas memórias mais queridas, e do outro, a promessa de que, não importa onde a vida me conduzisse, manteria viva a essência de quem sou. Cada palavra, cada expressão, era uma âncora que me lembrava de um passado cheio de cor, de música e de histórias, que resistiriam ao tempo e às transformações inevitáveis do mundo.


3. A Jornada Acadêmica e Profissional nos Estados Unidos

3.1. Formação em Engenharia e Atuação Profissional

O meu percurso levou-me aos Estados Unidos, um país de oportunidades que se revelou como um verdadeiro caldeirão de culturas e ideias. Foi lá que tive a oportunidade de ingressar na Santa Clara University para estudar Engenharia Eletrónica, numa época em que cada dia se apresentava como um novo desafio e uma nova descoberta. Durante os anos académicos, fui confrontado com rigorosas exigências técnicas e com metodologias de ensino inovadoras, o que me permitiu não só aprofundar os conhecimentos de circuitos, microeletrónica e sistemas integrados, mas também desenvolver um espírito crítico e uma vontade incessante de aprender.


Este período foi marcado por intensas experiências de crescimento pessoal e profissional. As salas de aula transformaram-se em laboratórios de experimentação, onde cada projeto e cada problema solucionado contribuíram para a afirmação do meu caráter e da minha identidade. A convivência com colegas de diversas partes do mundo enriqueceu o meu percurso, ensinando-me a valorizar diferentes perspetivas e a trabalhar em equipa com uma visão global.


Após a conclusão dos estudos, fui agraciado com a oportunidade de integrar em grandes corporações do sector dos semicondutores, como a Micron. Este salto para o mercado profissional revelou-se decisivo, pois permitiu-me aplicar os conhecimentos adquiridos e confrontar desafios reais do mundo da engenharia. Na Micron, o ambiente dinâmico e competitivo incentivava a inovação e a busca constante de soluções eficientes. Foi neste contexto que a bagagem cultural e linguística herdada de Angola e de Portugal se revelou um trunfo inestimável, proporcionando-me uma visão diferenciada na resolução de problemas e uma capacidade de adaptação que facilitava a comunicação com profissionais de diversas origens.


3.2. Convergência entre Tecnologia e Humanidades

Apesar de estar imerso num universo dominado pela precisão e pela lógica, nunca abandonei a minha paixão pelas letras e pela arte. A dualidade que vivi, entre a rigidez técnica da engenharia e a liberdade criativa das humanidades, revelou-se num ponto de convergência surpreendente. Acredito firmemente que a inovação nasce do diálogo entre a lógica e a sensibilidade, e que a capacidade de comunicar com clareza e empatia, quer em português quer em inglês, constitui um diferencial inestimável.


Neste ambiente multicultural e multidisciplinar, a experiência de ser bilíngue adquiriu uma nova dimensão. Transitar entre dois idiomas permitiu-me não só adaptar o meu raciocínio a contextos distintos, mas também abrir portas para diferentes formas de interpretar e compreender o mundo. Este intercâmbio constante entre o pensamento técnico e o literário, entre o racional e o emocional, inspirou-me a desenvolver abordagens inovadoras na resolução de desafios complexos. A versatilidade linguística revelou-se, assim, numa ferramenta poderosa, que me permite encontrar soluções que conciliam eficiência e criatividade.


A convivência diária com profissionais de variados backgrounds não só enriqueceu o meu repertório cultural, como também reafirmou a importância de valorizar as raízes e as tradições que me definem. Esta síntese entre a tecnologia e as humanidades tem sido uma fonte contínua de inspiração, impulsionando-me a explorar novos horizontes e a integrar, numa só visão, a precisão dos cálculos e a beleza dos versos que, desde sempre, me acompanharam.


Em suma, a minha jornada académica e profissional nos Estados Unidos não foi apenas uma trajetória de sucesso técnico, mas também uma viagem de autoconhecimento e de valorização das múltiplas facetas da minha identidade. A cada desafio superado, reafirmo a convicção de que a união entre a ciência e a arte é o caminho para uma inovação verdadeiramente transformadora.


4. Bilinguismo e Flexibilidade Cognitiva

4.1. O Poder de Pensar em Duas Línguas

Ser bilíngue é muito mais do que dominar dois sistemas linguísticos; trata-se de uma forma de pensar e de perceber o mundo que enriquece o intelecto e a criatividade. Crescendo num ambiente onde o português e o inglês coexistiam, aprendi a transitar com naturalidade entre dois universos linguísticos distintos, cada um com as suas nuances, expressões idiomáticas e estruturas próprias. Esta dualidade permitiu-me desenvolver uma mentalidade aberta e flexível, capaz de absorver e integrar ideias de diversas fontes.


A capacidade de pensar em duas línguas implica, por exemplo, adaptar o raciocínio consoante o contexto: em português, as expressões e metáforas carregam uma riqueza histórica e cultural que se difunde com poesia e emoção; em inglês, a clareza e a objetividade, características essenciais para a comunicação em ambientes tecnológicos e académicos, revelam-se fundamentais. Esta adaptabilidade não só fortalece a minha argumentação, como também contribui para uma visão mais abrangente e crítica dos problemas que enfrento, permitindo-me encontrar soluções inovadoras que muitas vezes escapam a uma mente limitada a um único idioma.


Além disso, o bilingüismo enriquece a capacidade de comunicação, facilitando a expressão de ideias complexas e a transmissão de sentimentos de forma precisa. É como se cada língua me oferecesse uma perspetiva única, possibilitando a articulação de conceitos de forma mais profunda e completa. Esta riqueza linguística, alimentada pelo constante exercício de pensar e comunicar em dois idiomas, transforma-se numa ferramenta poderosa, que me permite não só navegar com facilidade em diferentes contextos culturais, como também aprimorar a minha criatividade e sensibilidade.


4.2. Uma Vantagem na Resolução de Problemas

No contexto profissional, a capacidade de pensar e comunicar em duas línguas tem se revelado uma mais-valia inestimável. Em ambientes onde a resolução de problemas complexos e a tomada de decisões são quotidianas, o bilinguismo proporciona uma vantagem significativa. Ao encarar cada desafio, recorro a um repertório linguístico e cultural diversificado que me permite abordar as questões sob múltiplas perspetivas.


Por exemplo, no desenvolvimento de projetos de engenharia, a clareza e precisão exigidas pelo idioma inglês ajudam a formular soluções técnicas de forma concisa e objetiva. Simultaneamente, a riqueza do português, com a sua expressividade e profundidade, inspira-me a pensar fora da caixa e a encontrar abordagens criativas que muitas vezes se revelam decisivas na resolução de problemas aparentemente insolúveis. Esta combinação de rigor técnico e sensibilidade literária resulta num equilíbrio que favorece a inovação e a eficiência.


A flexibilidade cognitiva adquirida através do bilinguismo também se manifesta na capacidade de adaptação e na facilidade de aprender novos conceitos. Num mundo em constante mudança, onde as tecnologias e as metodologias evoluem rapidamente, a habilidade de ajustar o pensamento e a comunicação a contextos diversos torna-se essencial. Ser capaz de transitar entre diferentes formas de raciocínio permite-me não só compreender melhor os desafios que se apresentam, mas também antecipar necessidades e propor soluções que conciliem a lógica com a criatividade.


Em resumo, a experiência de ser bilíngue moldou a minha forma de pensar, ensinar-me a ver o mundo com olhos mais críticos e abertos, e a valorizar a diversidade de perspectivas. Esta flexibilidade cognitiva, aliada à capacidade de comunicação eficaz em dois idiomas, não só enriquece o meu percurso pessoal e profissional, como também me prepara para enfrentar os desafios de um mundo cada vez mais interligado e multicultural.


5. A Poesia de Camões e Fernando Pessoa: Inspiração e Legado

5.1. Influência dos Grandes Poetas

A literatura portuguesa é um vasto oceano de sentimentos e sabedoria, onde se destacam figuras como Luís de Camões e Fernando Pessoa. Desde tenra idade, fui cativado pela magia dos seus versos, que conseguem traduzir em palavras a grandiosidade do espírito humano. Camões, com a sua obra monumental – em especial "Os Lusíadas" – ensinou-me o poder da epopeia, onde cada verso carrega a força dos feitos e dos sonhos que moldaram a identidade de um povo. A sua escrita, rica em imagens e metáforas, é uma celebração da aventura, do sacrifício e da glória que define a trajetória de Portugal e, por extensão, dos nossos laços com as nações lusófonas.


Fernando Pessoa, por outro lado, revelou-me a complexidade da alma e a beleza das múltiplas facetas do ser. Ao afirmar que “Minha pátria é a língua portuguesa”, Pessoa não só enalteceu o valor do idioma, mas também insinuou que a nossa identidade se encontra intrinsecamente ligada às palavras que escolhemos para nos expressar. As suas obras, com a sua diversidade de heterónimos e perspetivas, permitiram-me compreender que a verdade pode ter várias camadas e que a introspeção é um caminho para a descoberta pessoal e coletiva.


5.2. Uma Ponte Entre Gerações e Territórios

Os poemas e sonetos desses mestres transcendem o tempo e o espaço, funcionando como pontes que unem gerações e territórios. Crescendo entre Angola e Portugal, a minha experiência de vida foi enriquecida por este legado literário, que serviu de elo entre a tradição ancestral e a modernidade dos dias de hoje. Cada palavra, cada rima, ressoa como um lembrete da importância de preservar a nossa herança cultural, num mundo onde as influências globais podem, por vezes, eclipsar as raízes locais.


Ao ler Camões e Pessoa, encontro não só a beleza estética das suas composições, mas também a inspiração para viver com coragem e autenticidade. A luta dos heróis em "Os Lusíadas" inspira-me a enfrentar os desafios da vida com determinação, enquanto a profunda melancolia e o misticismo dos poemas de Pessoa levam-me a refletir sobre a complexidade dos sentimentos e das experiências humanas. Esta fusão de épico e lírico criou um terreno fértil para a minha própria expressão, permitindo-me articular, através da escrita, os pensamentos e emoções que moldam a minha identidade.


5.3. O Legado Literário como Fonte de Transformação

A influência destes poetas ultrapassa a esfera pessoal, tornando-se numa fonte de transformação cultural e educativa. Em cada sala de aula, em cada debate literário, a obra de Camões e de Pessoa continua a servir como um guia que ilumina o caminho do conhecimento e da criatividade. Para mim, este legado é também um convite à reflexão constante sobre o papel da literatura na construção de uma sociedade mais sensível e consciente das suas raízes.


Neste sentido, a literatura deixa de ser um mero exercício de estética para se transformar num instrumento de diálogo e reconciliação. É, sobretudo, uma ferramenta que nos permite questionar, reinventar e transcender as barreiras impostas pelo tempo e pela distância. Ao celebrar os versos destes mestres, reafirmo o meu compromisso com a preservação e a difusão da língua portuguesa, reconhecendo que cada poema é, de facto, um testemunho vivo da nossa história e da nossa capacidade de criar beleza mesmo nas adversidades.


5.4. Contribuição para a Identidade Pessoal e Coletiva

A imersão na poesia de Camões e Pessoa ajudou-me a consolidar a minha identidade, reforçando a ideia de que as raízes culturais são fundamentais para o desenvolvimento de uma consciência plural e resiliente. Estes poetas ensinaram-me que, independentemente do lugar onde nos encontramos, a nossa essência permanece imutável – marcada pela paixão, pela coragem e pela busca incessante pela verdade.


A leitura e a escrita de poesia permitiram-me também partilhar estas experiências com os que me rodeiam, criando um diálogo enriquecedor com familiares, amigos e colegas de trabalho. Assim, o legado literário não se mantém confinado aos livros, mas estende-se às conversas do dia-a-dia, onde cada expressão poética contribui para a construção de uma comunidade mais unida e consciente do seu valor histórico e cultural.


Em suma, a poesia de Camões e Fernando Pessoa não só moldou a minha forma de ver o mundo, mas também acendeu uma chama que me impulsiona a manter viva a herança da língua portuguesa. Este legado, que continua a ecoar nas letras e nas vozes de todas as gerações, é a prova de que a arte e a cultura são, verdadeiramente, os alicerces sobre os quais se constrói a nossa identidade e o futuro de uma nação.


6. A Importância de Preservar o Português

6.1. Conexão Emocional e Cultural

Manter o português vivo no meu quotidiano é, para mim, uma forma de conservar as raízes que me definem e de perpetuar a herança lusófona que me foi transmitida desde a infância. Falar português não é apenas uma questão de comunicação; é um ritual que me conecta a familiares, amigos de infância e a uma comunidade que partilha a mesma paixão por uma cultura rica e multifacetada. Esta língua, que carrega em si histórias de glória, saudade e resiliência, é o elo que me une às tradições que moldaram a minha identidade.


Entre estas tradições, destaco com especial apreço as Festas do Espírito Santo, celebradas com enorme entusiasmo pelas comunidades portuguesas em todo o território dos Estados Unidos. Estas festas, originárias dos rituais ancestrais dos Açores, foram trazidas para os nossos lares no estrangeiro, preservando a essência do Espírito e a espiritualidade que nos une. Nas Festas do Espírito Santo, a preparação das tradicionais sopas – ricas em ingredientes que simbolizam a partilha e a generosidade – é um momento emblemático, onde a culinária torna-se uma expressão de fé e de união comunitária.


Os desfiles e as procissões acompanham a celebração, criando um ambiente de alegria e de cor. As coroações, que homenageiam a devoção ao Espírito Santo, revelam a importância dos símbolos religiosos e da tradição na construção da identidade portuguesa. Estes momentos, impregnados de emoção e de história, transformam as ruas num palco vibrante onde a fé se manifesta em forma de paradas e espetáculos que enaltecem a cultura e a religiosidade.


Para mim, a ligação com estas celebrações foi ainda mais profunda durante os 30 anos em que vivi em San José, CA, onde a Igreja das Cinco Chagas se tornou um verdadeiro centro de congregação para a comunidade portuguesa. Esta igreja, com a sua rica história e forte ligação às tradições católicas, desempenhou um papel central nas festividades, servindo de ponto de encontro e de apoio espiritual para os que, como eu, ansiavam por manter vivas as tradições do nosso país. A presença das Festas do Espírito Santo no seio da Five Wounds Church não só reforçou a devoção religiosa, mas também ofereceu uma oportunidade única para que as novas gerações se conectassem com as suas raízes, num ambiente de fraternidade e de partilha cultural.


6.2. Incentivo à Educação Bilingue

Como profissional e como ser humano, sinto uma responsabilidade profunda em incentivar as novas gerações a abraçarem o bilinguismo. Acredito que o contacto com o português, desde cedo, é um investimento no futuro, capaz de expandir horizontes e aprofundar a compreensão do mundo. A educação bilingue não só permite que crianças e jovens se apropriem de um património literário e cultural único, como também desenvolve competências essenciais para um mercado de trabalho cada vez mais globalizado e interligado.


Eventos culturais, como as Festas do Espírito Santo, desempenham um papel crucial na promoção e valorização do bilinguismo. Durante estas festividades, o convívio em família e na comunidade, o ritual das sopas que se partilham, as procissões, os desfiles e as coronas não só reforçam a identidade cultural, como servem de plataforma para o intercâmbio entre gerações. Ao participar nestas celebrações, os mais novos têm a oportunidade de vivenciar na prática a riqueza do português – uma língua que vai muito além das palavras, sendo o suporte para expressões de fé, arte e sentimento.


Incentivar a educação bilingue é, portanto, um compromisso com o futuro, acreditando que, ao cultivar uma mente aberta e diversificada, estaremos a formar cidadãos capazes de enfrentar os desafios de um mundo globalizado sem jamais esquecer as suas raízes. A integração das tradições – das sopas compartilhadas à emoção das procissões e das coroações – enriquece a experiência educativa, criando uma ponte entre o passado e o presente que fortalece a identidade cultural e estimula o diálogo entre as gerações. Esta aposta na diversidade linguística e cultural não só enriquece a experiência pessoal, como também fortalece o tecido social, promovendo um intercâmbio verdadeiramente enriquecedor entre a tradição e a modernidade.


7. Conclusão: Um Chamado à Comunhão Cultural

Ao percorrer a minha trajetória, desde as infâncias enraizadas nas ruas de Santa Comba, Cela, até à minha formação e atuação nos Estados Unidos, constatei que cada experiência – seja na paixão pela engenharia ou na inspiração dos grandes poetas – se entrelaça para formar a tapeçaria única da minha identidade.


A preservação do português revela-se, para mim, num compromisso diário de manter vivas as raízes que me definem. Este idioma, que me conecta à minha terra natal e que ecoa nas tradições das Festas do Espírito Santo, é o elo que une as memórias de um passado glorioso à esperança de um futuro promissor. Nas celebrações que acompanham os desfiles, as procissões e as coronas, bem como na partilha das tradicionais sopas que simbolizam a generosidade e a união, encontro uma profunda expressão da nossa fé e do nosso património cultural.


A ligação com a comunidade portuguesa, fortalecida ao longo dos 30 anos vividos em San José, CA, onde a Five Wounds Church serviu de ponto de encontro e de apoio espiritual, ilustra a importância de um espaço que alimenta não só a devoção, mas também o sentido de pertença e de identidade. Estes momentos de confraternização e de intercâmbio intergeracional mostram que o português vai muito além de um idioma – é uma porta de entrada para o diálogo entre o passado e o presente, entre a tradição e a modernidade.


Do mesmo modo, a experiência de ser bilíngue, a convergência entre tecnologia e humanidades e a inspiração encontrada nos versos de Camões e Fernando Pessoa demonstram que a riqueza cultural pode, simultaneamente, impulsionar a inovação e promover uma educação que valorize as diferenças. Incentivar o bilinguismo é investir num futuro onde a diversidade linguística e cultural enriquece o espírito, amplia horizontes e fortalece a capacidade de resolver problemas num mundo globalizado.


Assim, reafirmo o meu compromisso com a preservação da língua portuguesa, com a valorização das tradições que nos definem e com a promoção de um ambiente onde a herança lusófona é celebrada em todas as suas formas – seja nas aulas, nos desfiles festivos ou na poesia que nos inspira a cada dia. Que este testemunho sirva de convite para que cada um de nós se una nesta missão de construir pontes entre culturas, mantendo viva a chama que nos conecta a um passado glorioso e que ilumina os caminhos do nosso futuro.



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