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Nas Brumas de Terceira: Um Refúgio Entre o Mar e as Estrelas

há 4 dias

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A ilha de Terceira, com suas colinas verdes e campos pontilhados de hortênsias, parecia um pedaço de paraíso flutuando no Atlântico. Foi neste solo vulcânico, acariciado pelos ventos oceânicos, que encontrei um refúgio após a tormenta que foi a minha saída de Angola em 1975. A guerra fria havia aquecido o solo africano ao ponto de explodir em conflitos, forçando-me a abandonar a terra que me viu nascer, deixando para trás memórias, amigos e o ar cálido da Cela, Quanza Sul, Angola.


Quando cheguei a Terceira, trazia comigo a bagagem invisível de uma vida marcada por incertezas e medos. Contudo, ao pisar no chão da ilha, senti como se o tempo tivesse abrandado o seu passo, como se cada sopro de vento e cada onda quebrando nas rochas me convidassem a uma nova jornada, desta vez de paz e reconciliação com o passado.


Os dias começaram a ganhar um novo ritmo. O som do mar tornava-se uma melodia constante, um lembrete de que, apesar de tudo, a vida seguia adiante. As manhãs eram preenchidas pelo canto dos pássaros e pelo cheiro da terra molhada, enquanto as tardes me convidavam a explorar as ruelas estreitas das vilas, onde o tempo parecia ter parado. As casas brancas com janelas de madeira colorida, as igrejas antigas e as pessoas, sempre sorridentes e dispostas a conversar, deram-me um novo sentido de comunidade e pertença.


Foi na solidão do Monte Brasil, com sua vista deslumbrante sobre o mar infinito, que encontrei momentos de introspeção. As memórias de Angola ainda assombravam a minha mente, mas aqui, na vastidão do Atlântico, começaram a encontrar o seu lugar. O azul profundo do oceano, tão diferente das paisagens africanas, era agora um símbolo de liberdade e de novas possibilidades.


As noites na Terceira eram especialmente mágicas. Sob um céu estrelado, sem a interferência das luzes da cidade, eu sentia uma conexão profunda com o universo. Era como se as estrelas, que brilhavam intensamente, quisessem sussurrar histórias antigas e promessas de um futuro tranquilo. Os sons noturnos, o coaxar das rãs e o murmúrio distante das ondas, embalavam-me num sono reparador, longe dos pesadelos da guerra.


Mas não era apenas a natureza que me conquistava. As festas, tão ricas em tradições, tornaram-se parte de mim. O Espírito Santo, com as suas coroas e desfiles, as touradas à corda, e as celebrações religiosas, tudo isso despertava em mim um orgulho renovado por ser parte desta nova terra. Aprendi a celebrar a vida, a abraçar as novas tradições, sem esquecer as raízes profundas que me ligavam a Angola.


Terceira, com sua tranquilidade e beleza natural, tornou-se o lar que meu coração ansiava encontrar. Aqui, entre as hortênsias que coloriam a paisagem e o oceano que circundava a ilha como um abraço protetor, consegui finalmente reconciliar-me com o meu passado e olhar para o futuro com esperança.


Esta ilha não era apenas um lugar no mapa. Para mim, Terceira era um símbolo de renascimento, um espaço onde as feridas começaram a cicatrizar e onde a paz, finalmente, encontrou um lar.


Terceira: Um Porto Após a Tempestade


Nas vagas frias que o destino trouxe,

Fugi de Angola, guerra implacável,

Deixando o lar que fora insustentável,

Buscando um chão onde o medo fosse.


Encontrei, nas águas do vasto oceano,

A ilha verde, de nome Terceira,

Com paz e calma, a vida tão inteira,

Onde o sol brilha num céu soberano.


Ali, das dores fiz uma morada,

Entre hortênsias e a brisa do mar,

Refiz meu ser, de esperança alada.


Nas festas, nas gentes, no doce olhar,

Achei, por fim, a paz desejada,

No chão sagrado que vim a amar.


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