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O Preço do Progresso: Vida Selvagem, Desenvolvimento e a Transformação da Paisagem em Waku Kungo

há 4 dias

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Ao olharmos para o progresso e o desenvolvimento que transformaram Santa Comba, agora Waku Kungo, desde o início dos anos 1950, refletimos sobre o equilíbrio entre crescimento e preservação. As estradas, casas e infraestruturas que vemos hoje contam a história de uma região que abraçou a modernização, trazendo novas oportunidades ao seu povo. No entanto, junto com esses avanços, surgiram mudanças no meio ambiente — sobretudo o deslocamento da fauna abundante, incluindo a majestosa Palanca e a graciosa Gazela, ou Cabra do Mato, ou Cabra de Leque (Cambambi), que outrora dominavam a região.


Uma Terra de Abundância Natural

Na metade do século XX, a paisagem ao redor de Waku Kungo era um cenário rico em flora e fauna. Meu pai e meu tio Marcelino Moreira, frequentemente contavam-me como se maravilhavam ao ver as Palancas e as Gazelas vagando livremente pelas planícies ou mesmo na encosta que se tornaria o coração da cidade de Santa Comba. Esses animais não eram apenas parte da beleza natural, mas também símbolos de um ecossistema que prosperava em harmonia com a terra.


A área era preenchida por pastagens verdejantes, colinas ondulantes e riachos que sustentavam uma vasta gama de vida selvagem. As crianças da época cresciam com a visão constante desses animais, e sua presença estava entrelaçada no ritmo diário da vida. As Palancas, em particular, ocupavam um lugar especial, com seus impressionantes chifres e rara elegância, personificando o espírito da terra.


O Progresso Traz Mudanças

Com a expansão da cidade de Santa Comba, trazendo consigo a promessa de prosperidade, a infraestrutura começou a remodelar a paisagem. Estradas foram pavimentadas, casas construídas e a agricultura expandiu-se, levando a uma nova forma de vida para o povo da região. Esse progresso, embora necessário para o crescimento da comunidade, teve seu custo. Os habitats naturais que antes abrigavam as Palancas e as Gazelas foram gradualmente sendo invadidos, empurrando os animais para longe de suas tradicionais áreas de circulação.


As planícies outrora abertas começaram a ser ocupadas por plantações, fazendas de gado e habitações humanas. As florestas e matas, que serviam de lar para tantas espécies, foram desmatadas para dar lugar ao desenvolvimento. À medida que os centros populacionais cresciam, os animais foram sendo forçados a se afastar para áreas mais remotas, fora do alcance e da memória das novas gerações nascidas após o boom dos anos 1950.


O Desaparecimento da Palanca

Nos anos 1970, avistar uma Palanca perto de Waku Kungo tornou-se raro. Para muitos, esses animais se tornaram quase míticos, sua existência desaparecendo da vida cotidiana. Para aqueles que se lembravam de vê-las vagando livremente, a perda foi profundamente sentida. O desenvolvimento que trouxe estradas, escolas e comodidades modernas também levou algo insubstituível — a conexão direta entre o povo e a beleza selvagem que outrora definia a região.


O quase desaparecimento das Palancas nesta área é um lembrete sóbrio da fragilidade da natureza diante do desenvolvimento rápido. Embora o progresso tenha trazido benefícios inegáveis para o povo de Waku Kungo, também afastou esses animais de seu habitat natural, alterando o ecossistema e a identidade da região.


Uma Lição para as Futuras Gerações

Ao escrever este artigo, é importante reconhecer que o progresso feito desde os anos 1950 foi crucial para o desenvolvimento de Waku Kungo. Ele criou empregos, melhorou as condições de vida e permitiu que a região prosperasse. No entanto, também devemos reconhecer que esse progresso trouxe consequências — algumas das quais são irreversíveis.


Hoje, muitos de nós que nascemos nesta região sentimos um profundo senso de perda ao pensar na ausência das Palancas e das Gazelas na paisagem. Para as novas gerações que crescem em Waku Kungo, pode ser difícil imaginar um tempo em que esses animais eram uma visão comum. Mas essa história oferece uma lição valiosa: o progresso não deve vir às custas do mundo natural. À medida que a região continua a crescer, o desenvolvimento futuro deve ser equilibrado com esforços de preservação para proteger a vida selvagem remanescente e restaurar o equilíbrio ecológico onde for possível.


Seguindo em Frente

Para aqueles de nós que cresceram com essas memórias, é nossa responsabilidade compartilhá-las com a próxima geração. É importante educá-los sobre a rica história natural de Waku Kungo e incentivar um futuro onde desenvolvimento e vida selvagem possam coexistir. Esforços para proteger o meio ambiente e preservar o que resta da biodiversidade única de Angola devem se tornar uma prioridade, garantindo que as futuras gerações não precisem testemunhar o desaparecimento completo dessas criaturas magníficas.


Em conclusão, embora o preço do progresso tenha sido alto, ainda há esperança para a mudança. Ao reconhecer o passado, podemos traçar um caminho adiante que honre tanto a terra quanto a vida que ela sustenta. Waku Kungo é uma cidade rica em história, cultura e potencial, mas também um lugar que deve se lembrar da importância de preservar seu patrimônio natural para aqueles que virão depois de nós.


A Palanca Negra Gigante tem um grande significado cultural em Angola, e sua proteção é um símbolo de orgulho nacional devido à sua raridade e estado de ameaça. Muitas vezes é confundida com outras espécies de grandes antílopes, mas permanece única de Angola, especialmente nas regiões do Parque Nacional de Cangandala e da Reserva do Luando.


Imagem da Palanca Negra Gigante: A Palanca Negra Gigante, agora rara na região, permanece como um símbolo da vida selvagem perdida.

Imagem da Gazela: Uma gazela - Cabra do Mato, ou Cabra de Leque (Cambambi) "springbok" vagando pelas planícies, uma visão comum nos arredores de Santa Comba (Waku Kungo) no passado.

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