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O Silêncio que Nos Consome

15 de dez de 2024

3 min de leitura

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(Uma Reflexão Pessoal)


Há momentos na vida em que as palavras pesam mais do que o silêncio.


Lembro-me de um dia semelhante a hoje, quando a luz do sol atravessava a janela, fraca e tímida, desenhando linhas suaves sobre o chão do quarto. Não era um espaço vazio, mas estava oco—um reflexo fiel do meu próprio coração. Eu tinha acabado de receber uma notícia que não conseguia partilhar; ela girava dentro de mim, inquieta, sem forma, sem voz. Sentei-me à beira da cama, as mãos entrelaçadas, a cabeça curvada sob o peso invisível de tudo o que não disse.


Durante anos, ensinaram-me que o silêncio era força—que calar provava resiliência. Por um tempo, funcionou, até que as verdades não ditas começaram a se enrolar em nós. Subiram como fumaça, espiralando pela mente, recusando-se a desaparecer. O que eu não disse tornou-se uma pressão que não sabia nomear: nostalgia, dúvidas, arrependimentos—cada um pressionando mais fundo no peito.


“O que não dizemos não morre... Mata-nos.”


Essas palavras soaram como um eco do passado, lembrando-me das vezes em que deixei minha voz falhar. Vejo isso agora, até mesmo nas imagens que partilho convosco:


Uma versão mais jovem de mim, olhando para um espelho rachado, lutando contra o reflexo fragmentado.


Um homem mais velho, com anos de sabedoria no olhar, mas sombras na alma—fardos silenciosos que ele ainda carrega.

Uma silhueta solitária, a fumaça subindo suavemente, como um espírito que implora por libertação.


Todos nós já estivemos lá, não é? Sozinhos num quarto quieto, onde o silêncio grita mais alto do que palavras. Olho para aquela versão de mim mesmo, o homem que temia falar, e quero dizer-lhe: fala. Diz o que te vai na alma, mesmo que a voz trema. Nem todas as palavras não ditas desaparecem—algumas criam raízes e pesam, como vinhas que se enroscam no nosso ser.


Se não libertamos a nossa verdade, ela consome-nos.


Deixo-vos aqui o soneto que nasceu desta reflexão, inspirado pelas imagens, pela dor e pela necessidade de libertação:


O Silêncio que Nos Consome


Aquilo que na alma oculto reside,

No corpo toma forma e faz prisão,

Do peito sobe o nó, cruel torção,

E à noite em sonhos fere e nos divide.


Oh peso do silêncio que se alide,

Como pedra que afunda o coração,

Semeia na memória a solidão,

E a dor renasce, firme e sem alarde.


Palavras não lançadas, tortas, frias,

Matam-nos lentamente, sem perdão,

Como veneno oculto em águas frias.


Quem cala traz no corpo a confusão,

Que um grito abafado em agonia

Nos faz ruir em sombras, sem razão.


Estas imagens que vos apresento hoje são mais do que meras representações; são espelhos de batalhas silenciosas que travamos dentro de nós. Elas capturam a coragem de encarar aquilo que se oculta nas sombras e a beleza da luz quando, finalmente, se infiltra. Aquela luz—tão suave, entrando pela janela—é esperança. É a promessa de libertação, de voltar a respirar.


Por isso, partilho esta história convosco, caro leitor, não como um lamento, mas como um lembrete:

Diga a sua verdade. Partilhe o seu fardo. O silêncio só tem poder sobre nós se o deixarmos viver.


Que a luz em vossa vida seja sempre mais forte do que as sombras do silêncio.


Inspirado no soneto “O Silêncio que Nos Consome” e nas emoções capturadas nas imagens.







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