Explorando a Rica Cultura de Angola e Portugal

Os Ovimbundu: Uma Jornada de Resiliência e Herança Cultural
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Os Ovimbundu são o maior grupo étnico-linguístico de Angola, representando cerca de 55% da população nacional. Este povo é conhecido não apenas por sua grande população, mas também por seu papel central na história, economia e cultura do país. Ao longo dos séculos, os Ovimbundu construíram uma sociedade sofisticada, com estruturas políticas e culturais que resistiram ao colonialismo e influenciaram gerações, tanto em Angola quanto em outras partes do mundo.
Originalmente estabelecidos no planalto central de Angola, os Ovimbundu ocupavam as províncias de Bié, Huambo, Benguela, Kwanza Sul, Huíla, Namibe e Cunene, mas, devido à guerra civil e aos processos migratórios, sua presença expandiu-se para todas as regiões de Angola e além, chegando a países como Zâmbia e Namíbia.
Cultura e Tradições Ovimbundu
A cultura dos Ovimbundu é um tesouro de tradições, valores e expressões artísticas. Suas danças tradicionais não são apenas uma forma de entretenimento, mas também ferramentas de preservação histórica, resistência política e conexão espiritual. Destacam-se:
Njandó: A Dança de Resistência
A dança Njandó desempenha um papel emblemático na história dos Ovimbundu. Durante o período colonial, esta dança foi utilizada como forma de rejeitar as imposições portuguesas. Mais do que uma dança, o Njandó é uma expressão de luta, resiliência e liberdade. Quando os escravos Ovimbundu foram levados ao Brasil, levaram consigo o Njandó, que se transformou na Capoeira, uma das maiores heranças africanas na diáspora.
A Capoeira, hoje praticada globalmente, carrega traços inconfundíveis da filosofia Ovimbundu: resistência contra a opressão, estratégia e conexão espiritual.
Lundongo: A Origem do Samba
Outra contribuição marcante dos Ovimbundu para a cultura global foi a dança Lundongo, que influenciou diretamente o samba brasileiro. Este ritmo, que hoje é símbolo do carnaval e da identidade afro-brasileira, tem raízes profundas na cultura Ovimbundu.
Katita e Sawoia
Enquanto o Katita celebra eventos comunitários, como casamentos e colheitas, o Sawoia tem uma conotação espiritual, sendo realizado em rituais que conectam os participantes à natureza e aos ancestrais.
Essas danças são acompanhadas por uma rica variedade de instrumentos musicais tradicionais, como:
Ngoma (tambor): Representa o coração da música Ovimbundu, conectando ritmos à espiritualidade.
Tchipala (reco-reco): Um instrumento percussivo que marca o ritmo das cerimônias.
Mbira: Um instrumento melódico que simboliza a ligação com os ancestrais.
Avanços Tecnológicos e Econômicos Pré-Coloniais
Antes da chegada dos colonizadores portugueses, os Ovimbundu já haviam desenvolvido tecnologias avançadas, como a fundição de ferro, conhecida em Umbundu como Tchicolên. Este processo era realizado em fornos chamados de Tchilenga, operados com ferramentas chamadas Uyeveyo. Essas técnicas permitiram a criação de ferramentas agrícolas, armas e utensílios, garantindo a autossuficiência econômica e fortalecendo a posição dos Ovimbundu como um dos povos mais influentes da região.
Além disso, os Ovimbundu foram pioneiros na exploração e processamento de borracha, um recurso extraído das florestas de Moxico e Cuando-Cubango, chamado de Équenha ou Ekeco lho ko Ngaguela. Este produto era altamente valorizado nas trocas comerciais regionais.
A agricultura também foi uma área de destaque. Os Ovimbundu foram responsáveis por introduzir o milho branco em Angola, uma semente que lhes foi oferecida pelo rei da tribo Kaonde da Zâmbia, evidenciando a conexão e a colaboração entre diferentes povos africanos.
Estrutura Política e Governança
A organização política dos Ovimbundu era complexa e descentralizada. O sistema girava em torno de reinos conhecidos como ombalas, que tinham uma hierarquia estruturada e conselhos de anciãos para auxiliar nas decisões políticas e judiciais.
O Bailundo e o Soma Inene
O Bailundo, também chamado de Obala ya Lundu, era o centro do poder político dos Ovimbundu, lar do Grande Soma Inene, o líder supremo. O Soma Inene governava com base em tradições, justiça e o consenso dos anciãos, representando um modelo de governança inclusivo e eficaz.
Além do Bailundo, outros reinos notáveis incluíam:
Ekovongo
Ombala ya Ndulo
Ombala yo Mande
Sá Mande
Enhaleng
Essas ombalas eram interconectadas por laços culturais e econômicos, formando uma rede que garantiu a estabilidade política e a resistência contra ameaças externas.
Resistência ao Colonialismo e à Escravidão
Os Ovimbundu desempenharam um papel crucial na resistência ao colonialismo português. Desde o início, recusaram-se a submeter-se às imposições coloniais, organizando revoltas e defendendo suas terras com coragem e estratégia. A prática do Njandó foi usada como uma forma de treinamento militar e de resistência física.
Além disso, os Ovimbundu participaram ativamente de caravanas que boicotavam o comércio de escravos, protegendo suas comunidades e dificultando os esforços dos colonizadores em capturar membros de suas tribos.
Comércio e Conexões Regionais
Os Ovimbundu não eram apenas guerreiros, mas também habilidosos comerciantes. Criaram caravanas que conectaram Angola a outras partes da África, permitindo trocas de produtos como ferro, borracha, sal, tecidos e grãos. Essas caravanas não apenas enriqueceram suas comunidades, mas também estabeleceram alianças culturais e econômicas com outros povos africanos, como os Wa Kaonde da Zâmbia.
A introdução do milho branco é um exemplo emblemático dessas trocas, demonstrando a habilidade dos Ovimbundu em adotar e integrar inovações agrícolas em suas práticas.
Espiritualidade e Filosofia
A espiritualidade dos Ovimbundu é profundamente enraizada na reverência aos ancestrais. Rituais liderados por curandeiros, chamados de Ombanda, conectavam o mundo físico ao espiritual, garantindo equilíbrio e proteção.
Além disso, os Ovimbundu acreditavam no poder das forças da natureza, realizando cerimônias para celebrar a fertilidade da terra e agradecer pelas colheitas abundantes. Essa conexão espiritual é uma parte vital de sua identidade, persistindo até hoje em práticas culturais e religiosas.
Legado e Impacto Contemporâneo
Hoje, os Ovimbundu continuam a ser um símbolo de resiliência e inovação em Angola. Suas danças, músicas, avanços tecnológicos e resistência ao colonialismo influenciaram não apenas a história de Angola, mas também a cultura global, especialmente na diáspora africana.
Os Ovimbundu representam a força de um povo que, apesar dos desafios, permanece como guardião de uma rica herança cultural e inspiração para gerações futuras.
Ame Ovimbundu! Partilhe esta história para que a força e o legado deste povo jamais sejam esquecidos.

