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Uma Manhã Gelada na XITAKA

1 de dez de 2024

4 min de leitura

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Acordar na XITAKA, a minha pequena fazenda situada em Middleton, Idaho, sempre trazia consigo um ritmo especial. Esta manhã não foi diferente, embora o inverno tivesse deixado sua assinatura gelada em cada canto da paisagem. Do aconchego da minha cama, eu já podia sentir o frio do lado de fora. As janelas estavam ligeiramente embaçadas, mas uma espiada revelou uma cena tranquila e deslumbrante—uma neblina azulada cobria a fazenda, e a geada havia trabalhado sua mágica durante a noite.


Vesti um casaco grosso e botas, preparando-me para minha rotina matinal. Ao abrir a porta, fui saudado por uma lufada de ar frio, ao mesmo tempo cortante e revigorante. O quintal em frente à casa brilhava suavemente sob a luz das lanternas da varanda, que ainda piscavam com o charme das festas de fim de ano. A geada cobria todas as superfícies—cercas, árvores, até o chão sob meus pés. Era como se a fazenda tivesse sido polvilhada com açúcar de confeiteiro.


O primeiro som que ouvi foi a conversa familiar dos patos. Suas formas cambaleantes já estavam em movimento, reunindo-se perto do lago congelado, como se discutissem se valeria a pena testar o gelo. Um grupo deles, com suas penas brilhantes em tons de verde e marrom, chamou minha atenção. Seus passos deixavam marcas suaves na terra coberta de geada, um lembrete das aventuras matinais. Um pato particularmente ousado esticou o pescoço e deu um leve grasnado, como se estivesse me apressando. "Hora do café da manhã!", parecia dizer.


Enquanto caminhava em direção ao celeiro, parei para admirar a cerca. Ela não era mais apenas uma barreira simples—havia se transformado em uma peça de arte natural. Cada fio e malha estava delicadamente contornado pela geada, com tentáculos gelados que se estendiam como pequenos dedos. Os padrões intricados eram hipnotizantes, refletindo a luz de uma maneira que os fazia cintilar. Passei a mão enluvada pela superfície congelada, sentindo a textura frágil, porém bela, sob meus dedos.


Mais adiante, os gansos já estavam acordados, de pé ao lado do galinheiro. Suas penas brancas como a neve se misturavam perfeitamente com o cenário gelado ao redor. Eles grasnavam suavemente, um lembrete gentil de sua presença imponente no quintal. Algumas galinhas espiavam de dentro do galinheiro, hesitantes em sair para o frio. Suas penas estavam arrepiadas contra o ar gelado, e eu quase podia ouvir seus resmungos sobre a geada. Perto dali, um galo curioso desfilava confiante, sua crista vermelha brilhante contrastando com a paleta pálida do inverno.


Ao me aproximar do lago, notei que sua superfície estava parcialmente congelada. Camadas finas de gelo formavam padrões delicados que pareciam quase perfeitos demais para serem reais. Os patos investigavam as bordas, testando o gelo com passos cautelosos. Um pato particularmente ousado deslizou pela superfície congelada, batendo as asas para manter o equilíbrio. Os outros observavam, com algo que só poderia interpretar como uma mistura de admiração e diversão.


Além do lago, o pátio do celeiro se estendia, um mundo de atividade silenciosa. As cabras, sempre curiosas, já andavam de um lado para o outro em seu cercado. Elas baliram suavemente enquanto eu passava, suas respirações formando pequenos sopros de névoa no ar frio. Pareciam ansiosas pelo café da manhã, seus olhos me acompanhando atentamente enquanto eu verificava a ração.


As árvores ao redor da fazenda pareciam esculturas de inverno, com seus galhos cobertos de geada que brilhavam sob a luz do sol nascente. Cada galho parecia contornado por um rendado gelado, e a mais leve brisa fazia pequenos cristais caírem suavemente no chão. A maior árvore, erguendo-se ao lado do celeiro, era particularmente impressionante. Seus galhos esqueléticos se estendiam em direção ao céu, adornados com geada que captava a luz como um candelabro. Sob ela, uma fina camada de folhas rangia sob meus pés, acrescentando textura ao silêncio da manhã.


Um dos meus lugares favoritos na fazenda era o galinheiro. As galinhas finalmente tinham saído, ciscando no chão em busca de comida. Seus cacarejos eram rítmicos, quase relaxantes, e não pude deixar de sorrir diante de sua determinação. Um par de gansos havia reivindicado um canto do pátio, parecendo estátuas em meio à geada. Sua presença era ao mesmo tempo calmante e majestosa, como se fossem os guardiões de XITAKA.


Parei ao lado do galpão para absorver tudo aquilo. A velha estrutura de madeira, desgastada pelo tempo, permanecia resiliente contra os elementos. A geada grudava em seu telhado e paredes, transformando-a em um cartão-postal rústico de inverno. Atrás dela, a névoa começava a se dissipar ligeiramente, revelando mais da fazenda em suaves tons de branco e cinza. A silhueta distante das montanhas acrescentava profundidade à cena, lembrando-me da vastidão além deste pequeno santuário.


A luz do sol lentamente crescia mais quente, lançando tons dourados sobre a paisagem gelada. O jogo de luz e gelo era mágico, transformando até os objetos mais simples em obras de arte. O carrinho de mão estacionado perto do celeiro, o reboque sob a grande árvore e as pilhas de lenha empilhadas ordenadamente—todos estavam envoltos no toque delicado do inverno.


Enquanto continuava minhas rondas, parei para reabastecer os comedouros e verificar os bebedouros. Os animais se reuniram ansiosos, sua confiança e afeto enchendo-me de um profundo senso de propósito. Era um lembrete simples, mas profundo, do porquê eu amava esta vida. XITAKA não era apenas uma fazenda; era uma comunidade viva e pulsante de criaturas e terra, todas interconectadas e prosperando juntas.


Ao retornar para a casa, fiz uma última pausa para observar ao redor. Os patos agora nadavam alegremente no lago, aparentemente alheios à água fria. Os gansos permaneciam vigilantes, seus olhos escaneando o horizonte. As árvores balançavam suavemente na brisa, seus galhos congelados captando a luz de maneiras hipnotizantes. A casa em si, com suas luzes quentes e varanda acolhedora, era o coração deste pequeno refúgio.


Dentro de casa, o calor me recebeu como um velho amigo. Da janela da cozinha, ainda podia ver os animais se movendo, suas silhuetas emolduradas pela geada cintilante. O cheiro de café fresco preenchia o ar, e eu sabia que o dia à frente estaria cheio das simples alegrias que a vida em XITAKA sempre proporcionava.


Sentado à janela, tomando um gole de café, senti uma profunda gratidão. A beleza de XITAKA não estava apenas em sua paisagem pitoresca ou nos animais que a chamavam de lar—estava na conexão que ela promovia, no ritmo que oferecia e na paz que proporcionava. Aqui, em meio à geada e à luz do sol, era onde eu me sentia mais vivo.






1 de dez de 2024

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